Entre as mais de 30 mil espécies de orquídea espalhadas pelo mundo, a negra é considerada uma das mais raras pelos colecionadores. O motivo, além da coloração escura e bem diferente das tonalidades comuns, como branca, rubra, vermelha, verde ou amarela, é a dificuldade de encontrá-la para o cultivo.
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Na verdade, ‘orquídea negra’ é um termo popular para definir as espécies naturais ou híbridas com flores muito escuras e que, diante de certas condições de luminosidade, parecem pretas, explica a orquidófila Lurdes Portella Piva, mais conhecida como Dinha, de Porto Alegre.
“Nunca foram encontradas orquídeas verdadeiramente pretas na natureza. As pétalas são de coloração escura, mas não pretas. Elas têm a cor roxa avermelhada, vinho, marrom, púrpura, bordô ou roxa e ficam ainda mais escuras quando estão à meia-sombra, passando-se por flores pretas sem dificuldade”.
As espécies que possuem a coloração das pétalas mais próximas do preto são cinco: Maxillaria schunkeana, Paphiopedilum pisgah midnight, Cymbidium kiwi midnight, Dracula vampira e Fredclarkeara after dark. Conheça abaixo curiosidades sobre cada uma delas:
A Fredclarkeara after dark é uma das mais procuradas pelos colecionadores, conta a especialista ouvida pela Globo Rural, devido à aparência exótica, a durabilidade da flor e a coloração única das pétalas.
“Ela representa não só a beleza, mas também a raridade, a elegância e o desafio de cultivar uma orquídea tão extraordinária”.
Uma diferença para as outras espécies é a condição das folhas, que caem no período de dormência, e as hastes, pendentes e com muitas flores. Além disso, estas possuem fragrância suave que remetem a chocolate e baunilha.
A planta deve receber atenção especial para se desenvolver e, por consequência, florescer uma vez por ano. Normalmente, o período em que as flores surgem é entre o início de agosto e meados de setembro. Confira abaixo os principais cuidados:
A escolha do substrato correto em orquidários ou casas especializadas em jardinagem para o plantio da orquídea depende de alguns fatores. Os principais são a região do Brasil e o ambiente em que ela será cultivada.
Entre as opções disponíveis no mercado estão a brita, casca de arroz carbonizada, casca de pinus tratada, carvão vegetal e o sphagnum.
O ambiente em que a orquídea negra vai ficar precisa receber luz indireta e brilhante para evitar a queima das folhas. Caso o espaço tenha muito sol, a orientação é utilizar o sombrite de 50% como proteção.
Assim como outras espécies, as plantas com flores de coloração escura podem contrair doenças e ser atacadas por predadores, o que prejudica o desenvolvimento e a floração. Em alguns casos, pode levar à morte da planta.
A podridão negra e doenças bacterianas são as principais enfermidades que afetam a orquídea negra. Na lista de pragas, ácaros, pulgões, lesmas e caracóis estão entre as mais comuns e também perigosas.
Se o caso for sério, existe a possibilidade do uso de inseticidas, bactericidas e fungicidas apropriados, mas somente após procura e orientação técnica.
Quando chega na idade adulta, a espécie pode variar de 20 a 70 centímetros de altura, enquanto cada flor tem entre 2 a 6 centímetros de diâmetro na floração. O período em que fica embelezando orquidários ou outros ambientes, aliás, é longo e pode passar de 50 dias.
Por não estar no seu habitat natural, ela necessita de adubo para se desenvolver de forma saudável. A recomendação é utilizar um fertilizante específico para flores a cada 10 dias, regando a planta com água pura pelo menos duas vezes no intervalo.
O processo em que a planta é retirada de um local e transferida para outro é importante por quatro motivos: oferece mais espaço, mantém a saúde e força das raízes; renova o substrato e a drenagem e observa a presença de doenças.
O recomendado é que seja realizado a cada dois ou três anos no início da estação do crescimento, momento em que emite novos brotos, ou quando o substrato estiver desgastado, as raízes muito apertadas, o crescimento ficar lento e o vegetal apresentar sinais de murchamento.
“O vaso com furos deve ser um pouco maior que o atual, e o espaço livre ao redor da planta ter de dois a quatro centímetros. Não usar pratos embaixo do recipiente também é muito importante, pois a água acumulada pode saturar o substrato, favorecendo o apodrecimento das raízes”, diz.
Durante a técnica, raízes mortas ou danificadas podem ser podadas com uma tesoura esterilizada antes de acomodá-las no novo substrato. Além disso, o ideal é deixar os pseudobulbos acima do substrato e as raízes parcialmente cobertas para garantir o equilíbrio entre a umidade e a oxigenação.
“Para replantar a Fredclarkeara after dark eu utilizo vaso de cerâmica e coloco 30% de isopor picado no fundo. O restante é completado com uma mistura de casca de arroz carbonizada e brita número zero”.
Sim. No caso da Fredclarkeara after dark, que é epífita, há também a possibilidade da escolha por tocos de madeira. Ela deve ser bem fixada em árvores que forneçam condições adequadas de luz, umidade e ventilação.
A planta é considerada cara comercialmente, apesar do valor no mercado ter reduzido nos últimos anos, diz a especialista.
Segundo ela, espécies podem ser encontradas por valores entre R$ 400 a 6 mil, enquanto as mudas para o cultivo são comercializadas de R$ 100 a R$ 300, dependendo do estágio de crescimento.
Formada a partir do cruzamento de três gêneros intergenéticos complexos de orquídea – Catasetum, Mormodes e Clowesia –, a Fredclarkeara After Dark, por exemplo, é desejada pelos colecionadores pela combinação de excentricidade, exoticidade, impacto visual, dificuldade de propagação e alta demanda no mercado.
Dependendo do local, a lista pode aumentar ainda mais, afirma Dinha. “Aqui no Sul, também podemos incluir a dificuldade no cultivo e os cuidados, que devem ser maiores na época da pré-floração”.
A raridade da planta simboliza exclusividade e intensidade quando é dada como presente, explica a florista Cristiely Santos. Outro detalhe é o habitat. “Por crescer em condições mais desafiadoras que as demais, também é vista como símbolo de coragem e resistência”.